o dia em que um árabe deixou de ser vítima.

Fazia tempo que não entrava nas paranóias do mundo árabe, não havia feito um comentário sobre a crise no Egito, mas acho que está na hora.

Como sempre, vamos recapitular: alguém lembra que o Iraque há pouco menos de dez anos era um país maravilhoso, estável e tranquilo? Alguém lembra que o Irã também era mais pacífico do que hoje e que não existia nenhum tipo de desavença com relação ao Iraque, muito menos um lunático como Ahmadinejad?

Pois é, eu não lembro porque era criança, mas isso não faz tanto tempo assim. E como tudo isso mudou radicalmente em tão pouco tempo? Aposto que todo mundo sabe: mudou sob o guarda-chuva que os Estados Unidos da América abriram naquela região. Os motivos ninguém sabe ao certo, além de interesses financeiros básicos. Eu colocaria “prepotência” como motivo número 1, ou seja, simplesmente por que eles decidiram que seria assim e fizeram acontecer.


Um bom exemplo:
um dia os EUA gostavam no Aiatolá Khomeini, o grande perito na religião islâmica. Mas de repente perceberam que ele queria mesmo era revolucionar. No dia seguinte, os EUA acordaram não gostando mais do líder. Naquele esquema bem norte-americano, começaram a apoiar um cara que estava no comando no país vizinho, um tal de Saddam Hussein – e o Iraque ainda era um lugar tranquilo. E assim começaram as faíscas entre Irã e Iraque. Alguns anos depois, o apoio era tanto que os EUA perguntaram: “Saddam, você quer anexar esse pequeno pedaço de terra ao seu território? Nós estamos aqui para te ajudar!”. E assim começou a guerra do Kuwait.

Saddam não era esse demônio todo, ele só passou algumas décadas embriagado pelo poder. Poder concedido única e exclusivamente pelos americanos de merda. Anos depois, os mesmos bostas resolveram odiar Saddam e essa guerra sem pé nem cabeça que acontece hoje no Iraque começou assim.

Mas, voltando do exemplo, fica cada vez mais nítido que sempre que os norte-americanos resolvem colocar o dedo onde não foram chamados, eles transformam em ferida. O Egito e a ditadura de Hosni Mubarak são apoiados pelos EUA  historicamente e não se tinha notícias de nenhuma movimentação popular naquele país há cerca de 30 anos.

CHEGA. Acho que é isso que o povo árabe quer dizer. Chega de submissão. Está na hora de acabar com esses Estados engessados, não é? Não vai ser fácil – afinal, o que é fácil para aquele povo? Muito sangue e sofrimento estão por vir, mas que venham em prol da libertação desse povo…e olha que eu nem estou falando de Israel, o buraco é mais embaixo.

A ditadura na Tunísia caiu, Mubarak no Egito é o próximo. O primeiro-ministro da Árabia Saudita prometeu que não tentará se candidatar novamente. O Iêmen já se pronunciou falando que não haverá reeleição. E para os demais, é só uma questão de tempo. As coisas estão mudando no mundo árabe. Que bom para eles, que merecem a paz mais do que qualquer Miss Universo poderia imaginar. Não será milagroso o processo, a democracia árabe deve aprender a ser democracia, pois com os exemplos de hoje – o Hamas em Gaza, o Hezbollah no Líbano e o caos no Iraque -, a coisa ainda está feia. Mas deixem que façam da sua forma, que aprendam com os próprios passos.

Citando o artigo “Os árabes e o fim da vitimização”, do New York Times: “A GRANDE GUINADA ESTÁ OCORRENDO NA MENTALIDADE PASSIVA DO MUNDO ÁRABE. TRATA-SE DE UMA IMENSA PASSAGEM DA CULTURA DE VITIMIZAÇÃO PARA A CULTURA DE AUTODETERMINAÇÃO, DE UMA CULTURA DE CONSPIRAÇÃO PARA OUTRA DE CONSTRUÇÃO. É UM LONGO CAMINHO DA IRA À RESPONSABILIDADE, DA HUMILHAÇÃO À AÇÃO”.

pronto, falei.


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